domingo, 14 de abril de 2013

CONTINENTE ABAIXO DO OCEANO ÍNDICO

Novo estudo sugere que os remanescentes submersos de um microcontinente ancestral podem estar distribuídos sob as águas entre Madagascar e Índia.

Evidências para a terra há muito perdida vêm de Maurício, uma ilha vulcânica que fica aproximadamente900 kma leste de Madagascar. Os basaltos mais antigos da ilha são de aproximadamente 8,9 milhões de anos atrás, declara Bjørn Jamtveit, geólogo da Universidade de Oslo. Mas análises grão a grão da areia de praia que Jamtveit e seus colegas coletaram em dois locais da costa de Mauricio revelaram aproximadamente 20 zircões – minúsculos cristais de silicato de zircônio extremamente resistentes – muito mais antigos.

Os zircões tinham se cristalizado dentro de granitos ou outras rochas ígneas há pelo menos 660 milhões de anos, observa Jamtveit. Um desses zircões tinha pelo menos 1,97 bilhão de anos.

Jamtveit e seus colegas sugerem que rochas contendo os zircões viajantes se originaram em fragmentos ancestrais de crosta continental localizada abaixo de Maurício. Eles propõem que erupções vulcânicas geologicamente recentes levaram fragmentos da crosta para a superfície da Terra, onde os zircões foram erodidos de suas rochas–mães para polvilhar as areias da ilha. O trabalho da equipe foi publicado em 24 de fevereiro na Nature Geoscience.

O artigo também sugere que não apenas um, mas muitos fragmentos de crosta continental jazem abaixo do fundo do Oceano Índico. Análises do campo gravitacional da Terra revelam diversas áreas extensas em que a crosta do fundo do mar é muito mais espessa que o normal – com pelo menos 25 ou 30 quilômetros de espessura, ao contrário dos cinco a 10, mais comum.

De acordo com a equipe, essas anomalias na crosta podem ser remanescentes de uma massa de terra, que batizou de Maurícia, separada de Madagascar quando a deriva tectônica e a difusão do fundo do mar impulsionaram o subcontinente indiano para nordeste há milhões de anos. Alongamentos e desbastes subsequentes da crosta da região afundaram os fragmentos de Maurícia, que juntos formavam uma ilha ou arquipélago com aproximadamente três vezes o tamanho de Creta, estimam os pesquisadores.

A equipe decidiu coletar areia, em vez de pulverizar rochas locais, para garantir que zircões inadvertidamente presos em equipamentos para moer rochas de estudos anteriores não contaminassem suas amostras fresquinhas. O afloramento de crosta continental que poderia ter produzido os zircões de Maurícia mais próximo conhecido está em Madagascar, do outro lado de um mar profundo, aponta Jamtveit. Além disso, os zircões vieram de locais tão remotos de Maurícia que é improvável que humanos os tenham carregado até lá.

“Não existe fonte local óbvia para esses zircões”, observa Conall Mac Niocaill, geólogo da University of Oxford, no Reino Unido, não envolvido na pesquisa.

E também, não parece que os zircões tenham chegado a Mauritius carregados pelo vento, declara Robert Duncan, geólogo marinho da Oregon State University em Corvallis. “Existe uma possibilidade remota de que tenham sido soprados pelo vento, mas eles provavelmente são grandes demais para isso”, adiciona ele.

Outras bacias oceânicas espalhadas pelo mundo podem muito bem abrigar remanescentes de “continentes fantasmas” semelhantes submersos, observa Mac Niocaill em um artigo de Notícias e Opiniões que acompanha o trabalho. Apenas pesquisas detalhadas do fundo do oceano, incluindo análises geoquímicas de suas rochas, revelarão se a fragmentada e submersa Maurícia tem algum primo perdido, acrescenta.

Este artigo foi reproduzido com permissão da revista Nature. O artigo foi publicado pela primeira vez em 24 de fevereiro de 2013.

Sid Perkins e revista Nature

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